sábado, 26 de janeiro de 2013

ENTREVISTA: Rodrigo Aragão - Fábulas Negras Prod.


 Há quanto tempo existe o seu interesse pelo horror? Ele sempre foi uma meta profissional?
R: O interesse surgiu de forma bem lúdica porque meu pai era mágico e dono de cinema. Eu brincava de modelar monstros com uma massinha de água e farinha de trigo, na primeira oportunidade roubei o estojo de maquiagem da minha mãe. Mas foi quando assisti ao making off de O Imperio Contra Ataca, com 08 anos é que eu soube o que queria ser quando crescesse. A brincadeira mudou de tom e virou trabalho aos 16 ou 17 anos quando fui convidado para ser o responsável dos Efeitos Especiais de um curta metragem.

Como é a aceitação dos seus projetos na comunidade onde mora? Já ocorreram fatos engraçados no momento da produção de algum dos seus filmes?
R: Moro numa pequena aldeia de pescadores. Desde pequeno venho “catequizando” meus vizinhos nesta ciência monstrológica, rsrsrsr. Já assustei todas as minhas tias e as tias dos meus amigos, no final todo mundo acaba rindo. Quando estávamos gravando Mangue Negro teve uma situação bem engraçada, íamos para o set a pé e de repente começou a juntar gente, crianças gritando e aquela confusão, quando olhei pra trás entendi: éramos uma promissão de zumbis, parecia o Zombie Walk de Perocão (ES).

Todos os seus personagens são muito bem articulados. Existe muita pesquisa de campo ou isso já é um dom que te acompanha desde os espetáculos itinerantes?
R: A rua da minha casa é um ótimo lugar para fazer pesquisa de campo. Temos umas figuras típicas que são muito interessantes, literalmente personagens. Mas ganhei uma experiência considerável viajando com o Mausoleum, um espetáculo de teatro de terror itinerante.

Como é produzir filmes de gênero (e de forma independente) no Brasil?
R: Muito difícil. A iniciativa, salve o Mojica, é relativamente nova no Brasil, mas os fãs do gênero são fiéis e maravilhosos. Eles estão no mundo inteiro. Tenho muita fé no futuro porque a cada ano aparecem mais jovens realizadores interessados no terror e isso é muito bom.

E no exterior? Como estão sendo vistos os seus trabalhos?
R: Filme de terror brasileiro desperta muita curiosidade no resto do mundo, é como se fosse um diferencial. Mercado estrangeiro tem uma entrada melhor do que o mercado nacional. Mas tudo indica que há uma boa abertura para o nosso trabalho. Mangue Negro fez um excelente circuito e abriu portas. Estou otimista.

Quanto foi o custo de produção do seu mais novo trabalho, “A Noite do Chupacabras” e quando poderemos assisti-lo aqui em São Paulo?
R: Mais ou menos uns 200 mil. Estaremos em São Paulo no mês de novembro para o CineFantasy

A fotografia e as locações do longa são incríveis. Tudo se encontrava a mão como nas filmagens de “Mangue Negro” ou outros locais foram necessários para locação?
R: A natureza fez um belo trabalho com cachoeiras, montanhas e Mata Atlântica, rsrsrsrs. O Espirito Santo é maravilhoso. Filmamos quase tudo na zona rural de Guarapari, nos sítios da minha família mesmo, isso facilitou bastante. Um dia em Matilde, Alfredo Chaves. Mas tivemos uma grande dificuldade com as externa para iluminar o breu da Mata.

Li em algumas resenhas sobre a incrível atuação dos atores nesta produção. Todos têm uma formação artística ou são apenas amantes alucinados do cinema?
R: Estamos muito felizes com a elogiosa interpretação do elenco, que estava bem entrosado e todo mundo empolgado com o projeto. Os atores que não receberam educação regular em artes cênicas se formaram no set de filmagem, na minha opinião a melhor escola.

Como foi trabalhar com figuras tarimbadas como Petter Baiestorf, Joel Caetano e Cristian Verardi?
R: Uma grande satisfação e muitas gargalhadas. Os três são realizadores, militantes do cinema de baixo orçamento e contribuíram não somente com as interpretações, mas com toda a produção de modo geral. Foram divertidíssimos os banhos de sangue, acompanhar a relutância do Petter em deixar o Ivan morrer, descobrir o potencial cômico do Joel nos bastidores e assistir o “prazer” do Cristian degustando um suculento fígado, rsrsrssr.

A questão ambiental é sempre abordada em seus trabalhos. Você acredita que suas histórias mesmo sendo extremamente sangrentas podem conscientizar os espectadores sobre como a degradação do planeta pode se tornar o verdadeiro monstro e vilão?
R: Moro num lugar maravilhoso, o braço do manguezal passa nos fundos do meu quintal e na varanda da minha casa eu vejo o mar. Cresci acostumado com os cavalos marinhos, mas hoje em dia eu não os vejo mais, só vejo a sistemática destruição ambiental. Diante disso, pra mim é impossível não falar desse assunto nos meus filmes, porque convivo com essa questão desde que nasci.

Por isso fiquei muito feliz ao ver no jornal de maior circulação do meu Estado (Atribuna, 09/09/10), Mangue Negro na lista de “Filmes que ajudam candidatos ao Enem”, saber que os estrangeiros ficam deslumbrados e ao mesmo tempo em dificuldades para traduzir o significado de, não apenas uma palavra, mas um ecossistema desconhecido para eles, “mangue” é incrível.

A trilha sonora de “A Noite do Chupacabras” está estupenda. Como funcionou a elaboração do fundo musical para o filme?
R: Por causa do impacto da trilha de Mangue Negro, com as composições do meu saudoso amigo o maestro Jaceguay Lins, precisava de algo genial que fosse a altura. E os resultados já começaram a aparecer: a nossa trilha sonora foi homenageada com uma Menção Especial no Festival Fixion Sars - Santiago, Chile. Trabalhamos em parceria com todas as bandas, Pé do Lixo (ES), Orquestra Filarmônica do Espírito Santo (ES), Grupo Manguerê (ES) e Vida Seca (GO).

Como vimos nos casos de Srdjan Spasojevic (A Serbian Film), Tom Six (The Human Centipede 2) e Remy Couture (Inner Depravity) o gênero horror está sendo alvo de muita censura nestes últimos anos. Você já sofreu algum tipo de represaria sobre suas produções?
R: Sofremos uma censura na China, mas no caso do Brasil especificamente, penso que de modo geral, estamos mais intolerante e por consequencia mais violentos. A geração pós ditadura, não sabe o que é realmente um regime ditatorial, me parece ter bastante dificuldade em conviver pacificamente com as diferenças. Isso é muito perigoso. Nós devemos nos preocupar com isso sim.

Foi incrível ter a oportunidade de entrevistá-lo. Deixe uma mensagem para todos aqueles que ainda acreditam que o Brasil ainda tem muita força pra assustar na sétima arte.
R: Acho que o principio de tudo é você realmente acreditar nos seus sonhos. Apostar no seu projeto. Porque se você, que é o maior interessado no assunto, não fizer isso, com certeza não vai conseguir convencer ninguém. E não se deixe intimidar pelas dificuldades. Assuma responsabilidades, esteja preparado pra correr alguns riscos e siga os ideais.

Saiba mais sobre Rodrigo e a Fábulas Negras clicando aqui.

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