sábado, 26 de janeiro de 2013

ENTREVISTA: Joel Caetano - Recurso Zero Prod.



Quero que saiba que é uma tremenda satisfação realizar esta entrevista.
R: A satisfação é toda minha! Acompanho o Gore Boulevard mesmo antes mesmo de ter meus trabalhos publicados no site! É uma honra poder participar e contribuir para uma equipe tão dedicada ao nosso cinema! Obrigado pelo convite!

Desde quando existe esta sua fascinação pelo cinema? Ela está focada somente no gênero fantástico?
R:
Eu vejo filmes desde minha infância que aconteceu na década de 1980 período muito bom pra ver filmes na TV. Na época eu não tinha video-cassete, mas consegui ver de tudo um pouco e os meus gêneros preferidos eram as comédias adolescentes sacanas, filmes de ação, aventura e luta, ficção científica e principalmente o terror.

O primeiro filme que vi no cinema foi “Labirinto - A Magia do Tempo”, lembro de ter ficado fascinado! A experiência de se ver um filme numa tela tão grande, me fez praticamente entrar naquele mundo fantástico e bizarro criado por Jim Henson, foi inesquecível!

Me lembro também do segundo filme que vi, “Robocop - O Policial do Futuro”, fiquei chocado com a quantidade de sangue do filme, pois na TV geralmente cortavam essas partes, ali acho que começou meu interesse por filmes cada vez mais sangrentos e essa possibilidade de misturar FC e filme policial sangrento me interessou muito!

Falando de filmes que vi na TV, não posso deixar de citar o “Evil Dead” que pra mim, é um dos mais importantes do gênero. Primeiro por ter sido feito de forma independente e barata, segundo, por ter transformado essa falta de recursos em linguagem de forma primorosa e terceiro, por ter um dos personagens mais carismáticos do cinema, o Ash, interpretado brilhantemente por Bruce Campbell.

Outro filme que vi muito também foi “A Hora do Pesadelo”! Eu adorava o Freddy Krueger, o sadismo e humor negro desse personagem é incrível, foi a primeira vez que torci pelo vilão, apesar de sempre penar para dormir depois!

Falando ainda em clássicos, não posso deixar de citar alguns! Pode ser que não me lembre de todos, pois é impossível, mas lá vai alguns filmes que gosto muito: “Fome Animal”, “Hellraiser”, “Poltergeist”, “Halloween” I e II, “O Bebê de Rosemary”, “A Casa do Espanto”, “O Massacre da Serra Elétrica”, “Brinquedo Assassino”, “A Hora do Espanto”, “A Volta dos Mortos Vivos”, “Despertar dos Mortos”, “Dia dos Mortos”, “Colheita Maldita”, “Um Lobisomem Americano em Londres”, “O Exorcista” e muitos outros que passavam na TV naquela época!

Mudando o foco para a Ficção Científica, destaco a saga Star Wars! Eu e meus amigos assistíamos os filmes na TV e depois saíamos na rua para brincar de lutas de sabre de luz, era muito divertido! De ficção científica posso citar também, “Alien - O Oitavo Passageiro”, “O Vingador do Futuro”, “Blade Runner”, “Inimigo Meu”, “O Exterminador do Futuro” I e II, “Mad Max”, “Predador”, a trilogia “De Volta para o Futuro”, “ET”, “TRON”, entre outros.

Por ser aficionado por quadrinhos, eu também adorava aquela série do “Batman e Robin”, que passava no SBT, que é mais uma caricatura, mas divertida e o excelente “Superman” I e II de Richard Donner, que até hoje é um dos melhores filmes de super-heróis já feitos (e daí se ele consegue fazer o mundo voltar no tempo girando ao contrário?)

Teve também uma época em que via muitos filmes de luta, ação e aventura, do tipo “O Grande Dragão Branco”, “Os Aventureiros do Bairro Proibido”, “Duro de Matar”, “Indiana Jones”, “Máquina Mortífera”, “Ruas de Fogo”, “The Warriors” (que também é considerado FC), “As Sete Faces do Dr. Lao”, “Fúria de Titãs”, “Goonies”, “Conan o Bárbaro”, “Krull”, “O Último Dragão”, “O Rapto do Menino Dourado”, “Rambo”, “Comando para Matar”, “Stallone: Cobra”, “Fuga de Nova York”, “American Ninja”, “Desejo de Matar”, os filmes do Bruce Lee e por aí vai!

Fora isso vi de tudo um pouco. Na década de 1990, destaco os filmes de Quentin Tarantino, o “Drácula de Bram Stocker”, “O Silêncio dos Inocentes”, “A Bruxa de Blair” (principalmente pelo bom uso de equipamentos baratos como uma forma de linguagem) e o filme “Matrix”, que vi mais de um milhão de vezes. “Matrix” também serviu como inspiração, pois seu making-of (DVD que era vendido separado do filme, que tem todo o processo de criação, desde o roteiro até a finalização do longa) serviu de inspiração na hora que decidi dirigir meus próprios filmes!

Em 2001, já com vinte e poucos anos, foi quando comecei a faculdade de Rádio e TV. A princípio, me dediquei a fazer e assistir filmes de ficção científica! Até influenciado pelo making-of do filme “Matrix” como citei anteriormente.

Vendo filmes de fãs de Star Wars e Star Trek produzidos no exterior, decidi fazer o meu também, foi então que surgiu o “Dupla Surpresa” (2002), um filme que dirigi no primeiro ano da faculdade, baseado no universo de “Star Wars”.

Essa minha fascinação por ficção científica, se tornou meu objeto de estudo na faculdade, comecei então a ver e ler tudo sobre esse gênero!

Filmes como “2001 - Uma Odisséia no Espaço”, “Solaris”, “THX - 1138” “Alphaville”, Fahrenheit 451”, “Laranja Mecânica”, “Stalker”, “Zardoz”, “O Dia em que a Terra Parou”, “Guerra dos Mundos”, “The Last Man on Earth”, “A Mosca”, “Scanners”, “O Planeta dos Macacos”, “Metrópolis”, “Laranja Mecânica”, “A Máquina do Tempo”, “Logan´s Run”, “Plan 9 from the Outer Space”, entre outros, eram vistos por mim com exaustão, sem contar que pude rever com um olhar mais técnico filmes que já tinha assistido quando garoto, foi uma época incrível de aprendizado.

Toda essa pesquisa resultou em um trabalho de conclusão de curso chamado “Os Efeitos Especiais no Cinema de Ficção Científica”, do qual me orgulho muito.

Nesse mesmo período, eu já era viciado em filmes de terror alternativos, me lembro de ter visto a trilogia do Romero dezenas de vezes e filmes de terror italiano, principalmente do mestre Argento (meu preferido), os filmes de canibais, exploitation films, e principalmente tudo que era relacionado a zumbis, foi uma época deliciosa, descobri clássicos e coisas obscuras que nem imaginava existirem!

Aproveitei para rever também os filmes do nosso maior expoente do cinema de terror, José Mojica Marins, fitas que só melhoram a cada revisão e um olha mais crítico, me levou a admirar ainda mais a genialidade desse incrível cineasta.

Ultimamente tenho visto muita coisa do Japão, como os ótimos “Audition”, “Imprint” e "Ichi the Killer", de Takashi Miike, os divertidíssimos, “Machine Girl”, “Tokio Gore Police”, e “Vampire Girl vs Frankenstein Girl”. Esses são só alguns exemplos mais recentes do que vi, e o que gosto nos filmes japoneses é que as estórias seguem uma lógica totalmente diferente da nossa o que é muito bom em termos de aprendizado criativo e estético.

Os coreanos também se destacam e é claro que o melhor deles, na minha opinião é Chan-wook Park de “Oldboy”, “Lady Vingança”, “Mr. Vingança” e “Thirst” entre outros. O que me admira nesse diretor é a sua narrativa. Normalmente são estórias centradas nos personagens, que no fim, nos fazem refletir sobre diversos aspectos da trama, recomendo a todos.

Tem muita coisa da Espanha também, recentemente vi aquela série de filmes, “Películas para no Dormir”, cujo o capítulo que mais gostei foi o dirigido por Álex de la Iglesia, “Presença do Mal”, por sua simplicidade em saber contar uma história muito boa em uma curta duração de tempo, o que é difícil hoje em dia. Seu novo filme “The Last Circus” também me impressionou muito pela qualidade gráfica e profundidade dramática misturadas com um insano ritmo de loucura e obsessão dos ótimos personagens, isso sem contar a estética que é muito interessante.

Para finalizar, os meus filmes preferidos dos últimos tempos são “Martyrs”, “A Invasora” e “Alta Tensão” da França! A crueza, efeitos práticos e uma tensão dramática incrível são o maior tempero dessas produções, que geralmente chocam pelo aspecto psicológico, usando a violência extrema como um simples pano de fundo, realmente um prato cheio para quem gosta de horror físico e psicológico.

Outro recente que adoro também é o sueco “Deixe ela entrar”, pra mim o melhor filme sobre vampiros já produzido nos últimos tempos, uma pequena obra prima de sutilezas e interpretações fantásticas das crianças que protagonizam o filme.

Na linha de humor negro, adoro o “Shaum of the Dead”, é um filme que vi um milhão de vezes e continuo me divertindo sempre que assisto, foi uma das inspirações para eu fazer o filme “Minha Esposa é um Zumbi”, pois une o humor e o terror de forma genial, ao mesmo tempo que você acredita no apocalipse zumbi, você consegue rir das peripécias de Shaum e seus companheiros, um filme perfeito na minha opinião.

De ficção Científica posso citar um recente que me interessou muito, o “Lunar”, um filme do diretor Duncan Jones, que também parte de uma idéia e execução simples, mas muito competente e interessante!

De diretores que normalmente não são muito ligados ao terror, apesar de que alguns deles já terem flertado com o gênero, gosto de Tarkovisk, Godard, Fellini, Polanski, Kubrick, Sergio Leone, Beto Brand, Fernando Meirelles, Rogério Sganzerla, Wood Allen, Coppola, Tarantino, Rodriguez e mais alguns que não vou me lembrar agora! Esse negócio de nomes é fogo!

Não posso deixar de citar a nova onda de terror que vem acontecendo no cinema nacional, estou muito feliz em poder ver novos cineastas interessados pelo gênero, venho assistindo muita coisa em mostras e festivais e a qualidade dos filmes está cada vez melhor, são novos diretores que estão criando uma nova tradição de horror no Brasil, com muita identidade e cada vez mais qualidade!

A Recurso Zero Produções tem quanto tempo de atividade? Desde o início vocês acreditaram neste projeto como um meio artístico e profissional?
R:
A RZP foi criada em 2001, e está completando 10 anos de atividade. Começou quando eu, Mariana Zani e Danilo Baia, ainda na faculdade de Rádio e TV, decidimos gravar nossos filmes de forma independente, mesmo sem o aval dos professores.

Da minha parte, sempre acreditei no projeto! Desde a primeira vez que coloquei as mãos numa câmera e disse ação, não pensei em fazer mais nada na minha vida e fico feliz em ver que essa determinação vem dando resultado, pois nossos filmes estão sendo exibidos com muito êxito em diversos locais no Brasil e no mundo em países como Uruguai (onde ganhamos prêmio de melhor curta latinoamericano no Montevideo Fantástico com o filme Gato), Chile, México e Colômbia. Esse ano tivemos a honra de ter uma sessão especial no festival Curta Cinema 2011, que acontece no Rio de Janeiro, um dos maiores festivais de curtas do país, que exibiu 4 curtas que dirigi pela RZP, “Estranha”, “Gato”, “Minha Esposa é um Zumbi” e “O Assassinato da Mulher Mental” e um curta que participei como protagonista, o “Morte e Morte de Johnny Zombie” do diretor de muito talento, o Gabriel Carneiro.

A mostra se chamou "Mostra Especial Joel Caetano" e foi uma forma muito boa de comemorar os 10 anos de RZP. Acredito que esse acontecimento é um indício de que não só o nosso trabalho, mas os filmes de gênero nacionais, vêm cada vez mais, ocupando um espaço maior, o que me dá esperança de um futuro melhor para todos que produzem esse tipo de cinema, que é tão apaixonante, mas ainda muito incompreendido.

Ainda temos muito que trabalhar, acredito (e espero) que o melhor ainda esteja por vir!

Viver de cinema de gênero no Brasil é um tanto complicado. Você tem outra forma de renda ou fazer filmes é o seu ganha-pão?
R:
Eu sou formado em Rádio e TV e pós-graduado em Comunicação Social. Trabalho no ramo de vídeo e cinema desde 2005, como editor, assistente de direção e roteirista para vídeos institucionais e publicidade.

Em paralelo faço meus filmes que se pagam. Infelizmente não consigo viver só deles, é um projeto pro futuro que espero realizar em breve.

Já pensou em distribuir seus filmes de forma comercial?
R:
Quando comecei a fazer os filmes, eles serviam como uma espécie de vitrine do meu trabalho, não pensava em vender, muito menos que alguém iria se interessar em comprar, mas ultimamente, várias pessoas entraram em contato comigo por e-mail e pelas redes sociais perguntando como podem fazer para adquirir meus filmes. Esse interesse me fez repensar no assunto e estou bolando uns DVDs com os filmes para vender aos interessados, acho importante ter isso disponível, pois é uma forma das pessoas que curtem terem acesso ao nosso trabalho.

Ainda não tenho previsão de lançamento, assim que estiver certo, aviso aos amigos do Gore Boulevard.

O curta “Gato” participou de 21 festivais e recebeu uma dúzia de premiações. Poderia nos dizer como anda o reconhecimento da RZP no exterior?
R:
O curta “Gato” foi realmente um divisor de águas na RZP. Foi primeiro filme que fizemos de forma mais elaborada e com planejamento o que resultou em uma trabalho de grande aceitação do público e crítica.

“Gato” foi exibido em muitos festivais e em quase todos que mandei no exterior ele foi selecionado, tendo inclusive ganho o prêmio de Melhor Curta Latino-americano no Montevideo Fantástico no Uruguai, o que pra mim foi uma surpresa, visto que estávamos concorrendo com filmes de todo mundo, feitos com grandes orçamentos e de grande qualidade técnica e artística.

Nosso novo filme “Estranha” vem tendo uma carreira muito boa também, ele já ganhou prêmio de Melhor Curta Profissional no Espantomania II, festival que temos muita felicidade de participar desde a sua primeira edição e já foi selecionado para 4 festivais internacionais, o Montevideo Fantástico, o Santiago Rojo Sangre, Puerto Rico Film Fest e o Zinema Zombie Fest na Colômbia, sem contar os nacionais como Cinefantasy, RioFan, Curta Cinema e muitos outros totalizando 15 ao todo até esse momento.

O interessante, que depois do filme “Gato”, os organizadores de festivais, do exterior, principalmente na América Latina, já conhecem meu trabalho, o que de alguma forma, já ajuda na possibilidade de exibir os filmes por lá. Outra coisa que me ajudou a ser reconhecido no exterior também, foi a participação como ator no filme “A Noite do Chupacabras” do Rodrigo Aragão, melhor cartão de visitas impossível!

Como é o seu processo de filmagem? Você procura planejar com antecedência cada foco das histórias que conta ou tudo flui momentaneamente no set de filmagem?
R:
Eu costumo fazer os filmes pequenos com um planejamento de filme grande. Não gosto de pular estágios de planejamento, e venho cada vez mais, dando importância a esse processo.

Quando estou escrevendo o roteiro, procuro uma estória que eu tenha condições de filmar bem com o equipe e equipamento que estão disponíveis, ou seja, eu vejo as pessoas que podem participar, os equipamentos e locações e depois escrevo o roteiro baseado nisso.

Logo em seguida, mostro essa idéia aos meus companheiros de trabalho Mariana e Danilo, e discutimos o que pode mudar, simplificar, como podem ser feitos os efeitos e cenas, se a idéia é boa etc. Depois de decidido tudo isso, faço os storyboards e começo a produzir os efeitos práticos como maquiagem, armas e objetos de cena. Nesse meio tempo, já distribui os roteiros aos atores, peço que leiam e entendam as cenas, não exijo que decorem tudo, somente a intenção, pois gosto de ver o texto na boca do ator, da forma como ele diria na vida real e nos ensaios costumo adequar o roteiro a partir do que eles me trazem, fica mais natural ao meu ver. Depois fazemos o cronograma de filmagem, de acordo com as locações e iluminação de forma a aproveitar o tempo. Normalmente não filmo em ordem cronológica, isso não me atrapalha, pois nesse estágio, já estou com toda a estória na cabeça “de trás pra frente”.

Durante as filmagens, não procuro me prender muito, se vejo que algo não está funcionando, mudo na hora pois acho que o filme é uma espécie de organismo vivo, e deve funcionar com uma pulsação, com um ritmo que é o que faz dele, único.

Após a captação das imagens, vem o trabalho solitário de edição. Por trabalhar com isso, eu mesmo edito meus filmes, e não sei se conseguiria fazer de forma diferente, esse é o momento principal onde posso colocar minha marca no filme.

Hoje posso contar também com um profissional de áudio que compõe a trilha e faz a mixagem do filme chamado Tiago Galvão, um ótimo artista, músico e também diretor de cinema que acrescenta muito com sua ótima percepção musical.

Depois da sonorização, faço tratamento de cor e exibo para a equipe, que vai dar seu aval, procuro ouvir atentamente suas opiniões antes de fechar o filme, pois não gosto de modificar nada depois da primeira exibição pública.

Como a “nova onda” agora é censurar de tudo me senti na obrigação de fazer esta pergunta. Alguma vez a RZP já foi censurada ou teve algum de seus trabalhos modificados para serem exibidos?
R:
Realmente essa moda de censurar preocupa, não sofri algum tipo de censura direta não, mas não gostaria de mudar meu filme para ser exibido, vai do critério de cada um.

Quem assistiu “Minha Esposa é um Zumbi” (2006), “Junho Sangrento” (2007) e “Gato” (2009) percebeu uma simbiose perfeita simbiose entre humor e horror, mas em seu mais novo trabalho (“Estranha”, de 2011) o humor ficou de escanteio para dar lugar a um horror frio, tenso e perturbador. Esta mudança de estilo foi uma forma de não ser condicionado como “o diretor dos filmes de horror engraçados” ou estou enganado?
R:
Na verdade escrevo de acordo com o meu momento. Não fiquei planejando muito essa mudança, meio que aconteceu. Acho que tem haver com o que ando lendo e assistindo ultimamente, sei lá!

Tenho realmente essa veia cômica, mas quando penso nas estórias, tento deixá-las fluir na minha mente de uma forma mais livre, sem me condicionar muito. Eu penso, no que será melhor para contar aquela estória, naquele momento, e no caso do “Estranha”, que é um filme que na minha concepção, deveria causar sensações mais pertubadoras, a comédia não cairia bem. É uma questão realmente de inspiração casual.

A Recurso Zero Produções já flertou com outros gêneros em seus filmes? Cite alguns de sua preferência. R: Sou muito viciado em quadrinhos de super-heróis, sobretudo da DC Comics, Superman, Batman, Lanterna Verde e companhia que li durante toda a minha adolescência. Baseado nisso, imaginei um universo onde esse tipo de herói icônico, quase deuses, fossem brasileiros. Nasceu então “Os Aventureiros”, uma equipe formada por Hiper-Homem, Mulher Mental e Bruma.

Minha primeira tentativa de fazer algo com esses personagens foi na faculdade, em 2003, quando fiz o trailer falso de nome “Heróiz com Z de Brazil”, o Z fazia referência ao nosso consumo desse tipo de produto totalmente norte americano, uma espécie de crítica ao meu próprio gosto por HQs.

Depois disso, e 2005, fiz um desenho animado chamado “Bruma-O filme”, nessa época, queria lançar umas HQs com esses personagens e ao fazer a do personagem Bruma, aproveitei os desenhos para fazer a animação tipo aquelas da Marvel nos anos de 1960.

Em 2008, já um pouco amadurecido (já tinha dirigido o “Minha Esposa é um Zumbi” e “Junho Sangrento”), decidi voltar à esse universo com o filme “O Assassinato da Mulher Mental”. Mas ao invés de fazê-los salvando vidas, com todo aquele discurso heróico, decidi colocá-los de uma forma decadente já no fim da carreira, dando mais profundidade aos personagens e seus conflitos inernos, mas com muito humor é claro.

O filme participou de festivais e até hoje é exibido como na Rio Comicon desse ano! É um dos poucos filmes inspirados em HQs no Brasil.

Ainda quero fazer algum filme de Ficção Científica, tenho algumas idéias, mas ainda estou amadurecendo pro futuro.

Recentemente você participou como ator no longa capixaba “A Noite do Chupacabras” (2011) e teve seu personagem muito bem elogiado. Como foi trabalhar neste projeto e ainda encarar duas feras do cinema underground brazuca como Petter Baiestorf e Rodrigo Aragão?
R:
Participar do filme “A Noite do Chupacabras” foi incrível em todos os sentidos. Primeiro por ser admirador do trabalho do Rodrigo Aragão tanto nos filmes (acho "Mangue Negro" um dos filmes mais importantes do cinema de terror nacional) quanto por seu trabalho como técnico de efeitos especiais e maquiador de efeitos. Sou uma pessoa ávida por conhecimento, e estar naquele set de filmagem, onde tudo era novo para mim (ser dirigido por outra pessoa, fazer um longa metragem, trabalhar em locações externas na floresta, ser pago pelo trabalho, hehe...) foi uma verdadeira catarse.

Pude aprender muito com todos e em todos os sentidos, pois cada um que trabalhou no filme, tinha uma característica especial, que só me fez crescer como profissional e pessoa também.

Deixando o aspecto técnico de lado, não posso deixar de falar também do clima das gravações. Como a Mayra Alarcón e o Rodrigo sempre dizem, se as pessoas se divertirem um terço do que nos divertimos no set, o filme será um sucesso. Fiz verdadeiras amizades ali, pessoas que tenho contato até hoje e que pretendo manter sempre que puder. Cada dia de gravação era uma festa literalmente, pois depois do último “corta”, nos reuníamos para conversar e rir das estórias que aconteceram durante o dia. Durante as filmagens, tínhamos ataques de riso constantemente, alguns homéricos, normalmente nos banhos de sangue, quando o Rodrigo não conseguia se controlar, chegando a ficar gargalhando por mais de meia hora.

Me identifiquei muito com o pessoal da Fábulas Negras, todos da equipe foram muito receptivos, alguns até já passaram uns dias aqui em casa, como o Rodrigo Aragão, a Kika Oliveira e o Walderrama dos Santos, esse dois últimos, acabaram participando do meu filme “Estranha”, e como sempre, fizeram a diferença com suas atuações maravilhosas.

Em relação ao Rodrigo, é um grande amigo e profissional que admiro muito, e trabalhar com ele foi além de um prazer um grande aprendizado. Posso dizer que meu trabalho em “A Noite do Chupacabras” foi a melhor coisa que fiz até agora, e isso se deve ao fato dele ter me dado o privilégio e a segurança de interpretar um personagem tão importante quanto o “Douglas Silva”, foi uma grande responsabilidade, mas o Rodrigo sabe muito bem conduzir os atores dentro desse universo maravilhoso que ele criou para seus filmes, é muito fácil quando um diretor sabe exatamente o que quer, pois assim, fica claro para toda a equipe a sua visão, e o Rodrigo sabe o que está fazendo, pois é um grande artista.

Tive também o privilégio de gravar com o Petter Baierstorf, e foi super divertido! Eu já conhecia seu trabalho, pois anos atrás havíamos trocado nossos filmes e ele me indicou aos pesquisadores do Cinema de Bordas, por isso já sabia que iríamos nos dar bem (afinal ele gostou de meus filmes hehe...). Nas gravações, o Petter foi o mais profissional possível e muito atencioso com os demais companheiros, sempre preocupado com a segurança e bem estar de todos! Teve um dia que eu estava amarrado em uma árvore na beira do rio, num frio terrível, e entre uma gravação e outra, ele fazia questão de brincar o tempo todo comigo para me manter animado, tudo isso de forma consciente, sabendo que eu poderia me desanimar naquela situação.

No final do filme, tínhamos várias cenas juntos, foi ótimo, pois ele é um cara muito concentrado e gosta de ensaiar as cenas exaustivamente, assim como eu.

O Petter é um cara de um ótimo senso de humor, e nos identificamos muito nesse aspecto, pois era o tempo todo falando bobagens e dando risadas! Em nossos papos estapafúrdios, criamos umas 11 sequências imaginárias de baixíssimo orçamento (picaretas!) de “A Noite do Chupacabras”! Em uma delas, os nossos personagens acabam em uma ilha deserta cheia de mulheres alienígenas que cultuam o “Deus” Chupacabras. Já pensou?

Você acredita que o mercado brasileiro tem a capacidade de suportar (financeiramente falando!) o cinema de horror ou ele ainda precisa amadurecer em mostras e exposições alternativas?
R:
Eu acho que estamos quase no meio do caminho. Já temos festivais de gênero fantástico há 6 anos mais ou menos, aumentou a quantidade de produções e profissionais que trabalham especificamente com cinema de gênero, essas produções e profissionais estão cada vez melhores e o público vem aumentando a cada ano. O que falta agora é um investimento em distribuição e marketing. Distribuição para que os filmes cheguem a quem gosta desse tipo de trabalho, é difícil para um cineasta bancar tudo (já que a grande parte de quem faz filmes fantásticos no Brasil, não faz uso de leis de incentivo). Muitos apostam na distribuição independente, como vêm acontecendo com a música, mas para isso, precisamos de um marketing pesado, para que aqueles que não conhecem, tomem conhecimento de que existe uma cena de cinema independente de filmes desse tipo, senão é nadar, nadar e morrer na praia. Eu mesmo ainda não consegui bolar uma forma de distribuição adequada, estou pensando nisso desde o começo do ano, mas por alta de tempo e principalmente capital para investimento, ainda não consegui disponibilizar nenhum DVD no mercado.

De qualquer forma, acho que chegará um momento, que as coisas se organizarão de uma melhor forma a ponto desses problemas serem resolvidos, sou a favor sempre, dos produtores, festivais e envolvidos pensarem juntos em soluções práticas para esse tipo de impasse, assim, nosso cinema só tem a ganhar.

Deixe uma mensagem para todos aqueles que pretendem trilhar os caminhos da 7° Arte, mas que não possuem auxílio técnico ou patrocínio para realizarem seus projetos.
R:
Vou falar algumas coisas que acredito que sirvam para mim, e consequentemente para quem deseja fazer filmes independentes:

O principal de um filme é a idéia, e nenhuma idéia é ruim e sim, algumas vezes, mal desenvolvida. Acredite na sua idéia, amadureça, a ponto de se convencer e convencer os outros que ela é boa, e só assim, ela se transforma numa estória.

Não se limite por seu equipamento não ser profissional, ele é apenas uma ferramenta, use suas características para ajudar a contar a estória, pensando sempre no que de bom ele tem a oferecer e não suas limitações. E por fim, não se leve muito a sério, isso não quer dizer que tenha que fazer de qualquer jeito, mas o processo tem que lhe dar prazer, pois fazer filmes tem sempre que ser muito divertido!

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