sábado, 26 de janeiro de 2013

ENTREVISTA: Rubens Mello

Quero que saiba que para nós é assustadoramente prazeiroso iniciar esta entrevista.
R:
O Prazer é todo meu! Poder compartilhar com vocês e os leitores deste blog, é algo absolutamente fantástico.

A quanto tempo alimenta este fascínio pelo cinema de horror?
R:
Aos cinco anos de idade, eu assisti o filme "O FANTASMA DA ÓPERA, interpretado pelo lendário Lon Chaney (1925). Ver o filme foi um choque e ao mesmo tempo um fascínio!
O contraste do claro e escuro, luz e sombras, era muito poético, embora tenha ficado assombrado por alguns dias (risos). Depois, assisti à King Kong (1933) e foi o que bastou para eu mergulhar em definitivo para esta dimensão do "Horror". Além disto, Zé do Caixão era vizinho de minha avó e eu o via com alguma frequência.

Qual a sua opinião sobre a cultura de horror no Brasil? Afinal, feras como José Mojica Marins e Ivan Cardoso sobreviveram aos barrancos com seus filmes...
R:
Preconceito. Se prestarmos atenção, perceberemos que todos os meses estreiam filmes "importados" do gênero horror e seus derivados. E temos artistas que não se ocupam apenas com o audio-visual; nós temos poetas, músicos, pintores, escultores e tantos outros que abordam o sobrenatural e o fantástico em suas obras. O mais recente sucesso foi o espanhol "REC", que ficou meses em exibição por aqui. Nos Estados Unidos a nova versão de "SEXTA FEIRA 13", que teve sua estréia recentemente, ocupou a primeira posição do ranking de bilheteria. Já o tão esperado final da trilogia do Zé do Caixão, "Encarnação do Demônio" foi uma das piores bilheterias do cinema nacional. Por quê? José Mojica Marins lotou as nossas salas de cinemas à sua época com "A MEIA NOITE LEVAREI SUA ALMA" e '"ESTA NOITE ENCARNAREI EM TEU CADÁVER". Acredito que as grandes produtoras e distribuidoras de hoje não levem a sério nossos produtos ou sub-produtos. E nós temos um público fiél que lota salas de cine-clubes. Rodrigo Aragão acabou de realizar um clássico do cinema de horror tupiniquim com o premiado "Mangue Negro" (Melhor Filme de 2008 e Melhor Atriz de Cinema, no festival Omelete Marginal - ES). Temos pessoas engajadíssimas como Dennison Ramalho,Tiago Belotti, Fernando Rick, Petter Baiestorf, Boni Coveiro, Kapel Furman, Liz Martins (Liz Vamp), Giulia Moon, André Vianco e tantos outros que dedicam seu tempo a estética do horror. Para mim, é a falta de reconhecimento de um público fiel ao gênero.

Antesde se dedicar aos filmes, qual era sua ocupação?
R:
Sempre estive envolvido com artes. Prefencialmente com o horror. Mas antes de me dedicar com paixão definitiva aos filmes cantava numa banda de Rock, ao mesmo tempo em que era bancário.

Como foi vencer o concurso do "Sucessor do Zé do Caixão"?
R:
Uma grande honra receber o titulo de "Sucessor de Zé do Caixão". Mas inicialmente eu não acreditava que ele procurava um sucessor. Amigos me disseram e incentivaram que eu me inscrevesse. Mas para mim, ele é insubstituível, como Chacrinha também o é. Cheirava a marketing e, digamos que Mojica é o mestre da auto-promoção. Por fim, vi nos jornais a convocação e resolvi ir ao seu escritório para conhecê-lo e dizer o quanto me assustava quando cruzava com ele nas ruas próximas à casa de minha avó e o quanto admirava sua obra. Ele me estimulou e acabei me inscrevendo. o resto você já sabe. Não quero ser o novo "Zé do Caixão", andar com unhas grandes, capa ou cartola. Quero ser eu mesmo e me expressar. Não da pra viver uma vida que não é a minha. Assim como Drácula teve seus intérpretes, (para mim Christopher Lee é o mestre!) eu poderia facilmente interpretar o personagem, como já o fiz em várias performances, mas "SER" o novo Zé do Caixão é impossivel. Mojica absorveu a criatura por demasiado em sua vida pessoal.

Além de filmar, você já trabalhou como ator em outras produções?
R:
Sim, participei de alguns projetos bacanas como "Carandiru", de Hector Babenco; "Terror na Praça Roosevelt" de Jussara Félix Fiqueiredo, "A Chácara Maldita" de Rogério Schiavinato, "Cenas Bizarras na Mina do Tesouro" de Gary Besling e Christopher Draeeger; "Enigma, Fatos e Mistérios" de Renato Santos; " DVD “Nightmare Scenarios” da banda norte americana Necrophagia, "Encarnação do Demônio" do Mojica , fragmentos de "Liz Vamp - O Filme" e "Contos de Liz Vamp - Pìlulas de Adrenalina". "Maldita Carne" de Fabiano Moura e "Meninos de Kichute" de Luca Amberg.

Falemos agora um pouco sobre seus primeiros trabalhos, e se possível, o porquê da demora do lançamento de "A Chácara Maldita".
R:
Eu fiz muitas brincadeiras e experimentos. Quando criança criava roteiros sobre vampiros e Drácula. Fazia desenhos em folhas sulfites e colava uma folha na outra e os enrolava como pergaminho. Juntava alguns amigos da vizinhança e gravava as vozes e falas dos personagens. Boatava uma trilha de terror e depois, numa caixa de madeira, passava o "desenho", desenrolando-o sobre duas alavancas. Meu pai colocou três lâmpadas que ajudavam a dar o clima: Azul para noite, Vermelho para cenas sangrentas e uma Branca pra dia e relâmpagos. Mas eu considero como meu primeiro trabalho um curta sobre vampiros escrito e "estrelado" pelos atores do curso do Zé do Caixão, que é minha produção mais trash "Sangria". Perdemos tantas imagens deste filme revendo o que tinhamos captado que, para montar o filme, tivemos que usar cenas de bastidores (risos). Fiz também um curta com o Fernando Rick "Conspiração", que talvez seja o primeiro dele antes de criar a Black Vomit e partir de cabeça para o gênero, e nos dando uma pérola que é "Colecionador de Humanos Mortos". Recentemente fiz um remake do "Sangria" chamado "Lâmia,O Vampiro". Outros trabalhos foram "O Sacrifício" e "A Carne". Atualmente dedico-me a minha mais nova cria, "Tatúrula: Sinfonia do Medo". Sobre a "Chácara Maldita", nós tivemos problemas com uma cena e é preciso refazê-la. Mas acontece que a atriz desta cena, acabou de ter um filho e estamos aguardando o momento para que possamos refazer.
É isto.

Falemos um pouco mais sobre a sua parceria na Sangueria Filmes e como adquirir suas obras.
R:
Me identifiquei muito com Rogério. Uma pessoa dedicada, que não mede esforços para a coisa acontecer. Pra adquirir nossos filmes, entrem em contato através do e-mail rubensmello@gmail.com, ou rubensmello@yahoo.com.br.
O que pudermos fazer faremos (risos).

Você já teve obras exibidas em festivais underground no Brasil ou no exteriror?
R:
Sim, eu já tive alguns filmes exibidos em São Paulo (Cine Horror), em Sabaúna (Bauru), Santos e Rio de Janeiro. No Exterior ainda não. Mas teremos (risos).

Qual o melhor filme que você já produziu?
R:
Sem sombra de dúvida é minha nova criação: "Tatúrula: Sinfonia do Medo". Trata-se de um longa metragem formados por sete histórias independentes lincados pela criatura "Tatúrula" e alguns personagens. Já finalizmos a primeira história chamada "A História de Lia". Tenho que mencionar o belo trabalho realizado pela atriz Karina Bez Batti como "Lia", e a todo o elenco, sem dúvidas.
Eles mergulharam de cabeça nesta paranóia "freudiana". Acabamos de dar start para a segunda história que é um desenho animado e preciso agradecer ao Alexandre Luz e ao Vitor Signoretti por terem vestido a camisa de Tatúrula. Neste longa abordamos temas polêmicos e tabús de forma onírica.

O que você está achando dos filmes de horror de uma década pra cá?
R:
Sinceramente, não sei se estou meio amortizado por estar anos à fio à frente do horror...mas acho que Hollywood se repete demais, faz remakes demais. O "boom" do cinema asiático/japonês desapareceu como surgiu. Eu tiro o meu chapéu (ou cartola!) para Jaume Balagueró e Paco Plaza pelo belo, tenso e assustador "REC", para o Mojica Marins pelo fantástico "Encarnação do Demônio". São obras que primam pela originalidade e excelente realização e claro, ao Denisson Ramalho que tem reinventado o horror tupiniquim.

Fale-nos um pouco sobre a sua mais nova produção e o porquê de um tema tão pesado?
R:
Todos os dias acordo sendo bombardeado pelos noticiários de TV com crimes escabrosos, casos de pedofilia, crimes passionais, pai e mãe matando seus filhos. Nossa função como artista é retratar a realidade em que vivemos. Seja de forma poética ou não. Deixamos assim, um retrato do período em que vivemos. Um retrato da nossa história. Veja o absurdo que aconteceu com o caso do padastro que estuprou e engravidou a enteada que esperava gêmeos. A pobre menina que corria risco de vida fez um aborto e por este ato ela e a familia foram excomungados, enquanto o famigerado padastro apenas cometeu pecado, segundo um bispo da Igreja Católica. Isso é Tatúrula. Crimes motivados pelo sexo, pela fome carnal. É o subconciente livre das mediações do ego e super ego (consciência). O objetivo deste trabalho é o de apresentar as angústias e os desejos; os medos e as alucinações que servem como combustível que alimentam os monstros que existem em cada um de nós. Certos ou errados, monstros ou humanos, doentes ou pervertidos, as várias encarnações dos “Tatúrulas” andam entre nós.

Você tem patrocínio para a produção dos seus filmes ou sai tudo do "cofre da produção"?
R:
Sai tudo do bolso (risos) ou do cofre da produção, se preferir. Produzir filmes independentes no Brasil não é facil. Seja do gênero que for. Mas quando se trata de terror/horror, fica ainda mais difícil porque parece que existe medo de se patrocinar filmes do tipo, em lincar produtos com filmes onde se jorra sangue. Puro preconceito.

Quais os esqueletos guardados no armário para os anos que virão?
R:
  2009 vai  ser totalmente dedicado ao Tatúrula. Creio que estaremos trabalhando com ele ainda em 2010. Mas adianto que entre meus próximos projetos estão o remake de "Conspiração", "O Asema", "Insania" que prometo ser tão ou mais polêmico que "Tatúrula", e "A Chácara Maldita 2". Acredito que o projeto "Enigma" volte à tona também.

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