sábado, 26 de janeiro de 2013

ENTREVISTA - Gisele Ferran, atriz e Scream Queen


Primeiramente quero que saiba que é um prazer realizar esta entrevista.
R: Imagina...o prazer é todo meu em estar aqui divulgando o meu trabalho, falando um pouco sobre minha carreira e meus gostos. Desde já agradeço pela oportunidade.

Como surgiu a oportunidade de trabalhar com a equipe da Canibal Filmes?
R: Tudo começou quando Gurcius Gewdner me convidou para estrelar “Frebby Dreck Ballet”. Então, acho que o Petter Baiestorf me viu nesse curta e, como ele estava montando o filme “O Doce Avanço da Faca”, se interessou pelo meu trabalho, pediu informações ao Gurcius e entrou em contato comigo. Eu já havia visto alguns filmes do Petter (entre eles os sexplotations sanguinolentos “Vadias do Sexo Sangrento” e “Arrombada, Vou Mijar na Porra do Seu Túmulo”) e receber o convite de trabalhar com a equipe da Canibal Filmes foi para mim um grande presente.

Você já havia trabalhado sua nudez antes do curta do alucinado Gurcius Gewdner, "Frebby Dreck Ballet" (2010). E como foi a reação de seus amigos e familiares ao encenar a personagem "Ana Clara/Fúria" no filme "O Doce Avanço da Faca" (2010), de Petter Baiestorf?
R: Antes de “Frebby Dreck Ballet” eu não tinha feito absolutamente nada que envolvesse nudez. Aliás, eu era bastante envergonhada e tinha alguns complexos referentes ao meu corpo. Durante toda minha adolescência eu evitava usar blusas muito justas e quando ia à praia nunca usava biquíni, vestia sempre uns maiôs ridículos ou então camiseta, nunca trocava de roupa na frente de minhas amigas... Enfim, eu morria de vergonha do meu corpo, achava meus seios muito grandes. Passei toda adolescência me escondendo, não queria chamar a atenção, mas mesmo assim lembro que no colégio os meninos me colocavam apelidos e mexiam bastante comigo por causa dos peitões (risos). Eu odiava aquilo!

O tempo passou, e a menininha “patinho feio” cresceu e percebeu que não era tão “patinho feio” assim. Comecei a me gostar, curtir meu corpo do jeito que ele é, sem me comparar com outras mulheres, me aceitando do jeito que sou. Mesmo me curtindo, nem passava pela minha cabeça fazer topless por aí, muito menos em um filme! Lembro que eu assisti o filme “Mamilos em Chamas” e me encantei com toda a trama, os personagens marionetes, o casal de coelhos. Achei tudo aquilo genial e então procurei descobrir mais sobre o diretor e assim foi como cheguei até Gurcius Gewdner. Adicionei ele numa rede social e, para minha surpresa, ele foi super receptivo e simpático. Até então eu não tinha a menor intenção de participar de filmes, quer dizer, eu nunca tinha pensando nisso. Mas como o Gurcius viu as fotos de algumas das peças em que atuei, perguntou se eu era atriz e me convidou para filmar com ele. Ele me explicou como seria e eu topei na hora.

Foi bastante formidável e tranqüilo fazer as cenas de “Frebby Dreck Ballet”. Toda equipe me tratou com muito respeito, e acredito que essa atitude foi essencial para meu bom desempenho no curta. Durante todo tempo me senti muito a vontade e livre pra criar e o resultado foi aquela maravilha da sétima arte. Adoro “Frebby Dreck Ballet” pela sensação de liberdade que transmite. A nudez no filme, a meu ver, é colocada não de forma sexual, e sim como algo natural, espontâneo e até mesmo ingênuo e puro.

Trabalhar com o Gurcius Gewdner foi uma experiência fantástica.  E eu ainda estava deslumbrada com esses novos acontecimentos na minha vida, quando surgiu o convite para trabalhar com Petter Baiestorf. Lendo o roteiro de “O Doce Avanço da Faca” percebi que eu teria mais algumas cenas de nudez, mas tirei isso de letra. Na verdade tenho muito mais facilidade em fazer cenas de nudez do que cenas de violência. Não sei explicar o porquê, mas desconfio que seja porque eu acho muito mais bonito e fascinante um corpo nu do que um assassino, por exemplo. Mas a maioria das pessoas se escandaliza ao ver uma cena de nudez e acha confortável e banal cenas de violência. Não consigo compreender o porquê disso. Para elas, o ato de encenar o amor ou estar ao natural é algo condenável e repulsivo. Por sorte, minha família sempre me apoiou e se orgulha de mim e do meu trabalho. Tenho uma família incrível e “meus velhos” tiveram bom senso me dando uma ótima educação, com muito diálogo e baseada na confiança. Sempre tive muita liberdade, tanto para freqüentar lugares/sair, quanto para fazer os cursos e esportes que eu me interessavam, me incentivavam bastante para a leitura e gostavam das minhas amizades. Nunca ouvi algo, tanto de meu pai quanto de minha mãe, sobre tabus ou comentários preconceituosos em relação a sexo. Enfim, tive a sorte que pouco possuem!!!

Meus pais não chegaram a ver o filme “O doce Avanço da Faca”, mas viram algumas fotos das cenas de nudez e acharam aquilo bastante normal. Minha mãe elogiou bastante meu corpo e minha coragem. Mas mesmo se eu não pudesse contar com o apoio da minha família, com certeza eu faria tudo novamente, seguiria em frente porque a vida é uma só e não sou dessas que fica se controlando por conta de preocupações com que os outros vão pensar ou falar. Faço o que eu considero certo, vivo de acordo com os meus princípios e consciência e não com o que uma sociedade doente e hipócrita diz que eu devo ou não fazer.

Ah, quase ia esquecendo: meu namorado é a pessoa mais maravilhosa desse mundo e me apóia em tudo o que faço. Quanto aos amigos, descobri que tenho poucos verdadeiros e esses sim ficaram felizes em me ver realizada no trabalho e se orgulham de mim me apoiando e dando muita força. Já os falsos amigos... aaah, esses se corroeram de inveja com meu sucesso!

Foi só saberem que participei dos filmes para espalharem os maiores absurdos a meu respeito. Mas de um lado isso foi bom para eu descobrir quem realmente vale a pena, quem gosta de mim e quem se importa comigo. Quanto à essas pessoas que eu acreditava serem meus amigos e que me “apunhalaram” pelas costas não sinto mágoa alguma. Já os perdoei porque sou uma pessoa maravilhosa com um bom coração (risos). Na verdade eu sinto muita pena dessa gente frustrada e invejosa. Os perdoei do fundo do coração, mas mantenho distância porque esse tipo de gente recalcada eu quero bem longe da minha vida.

Qual a sua opinião sobre a exposição do corpo a partir da arte seja ela fotográfica, teatral ou cinematográfica?
R: Bom, como comentei anteriormente, a nudez para mim é algo absolutamente normal, natural e bonita. O corpo humano é tão lindo, uma das maravilhas da natureza, deveria ser admirado, fotografado, filmado e adorado, mas jamais censurado! Não consigo entender porque muitas pessoas enxergam algo sujo ou imoral em um corpo nu. Nos dias de hoje, existe uma grande inversão de valores, as pessoas criticam, discriminam e se chocam ao ver uma cena/pintura/fotografia de nudez, mas consideram normal e não se sentem nem um pouco desconfortáveis com a violência em reportagens sensacionalistas dos telejornais, por exemplo. Falam mal de uma atriz que mostra o corpo nas revistas ou em cenas de filmes como se isso fosse uma falha de caráter, quando na verdade o “mau-caratismo” está justamente em discriminar, julgar e prejudicar o próximo. Toda essa censura e discriminação me incomoda bastante.
O mundo das artes está repleto de exemplos de censuras absurdas. Recentemente fiquei indignada ao saber que a fotógrafa norte-americana Nan Godin teve uma exposição cancelada no Brasil porque na última hora a empresa patrocinadora considerou as fotografias “inadequadas”. Um outro fato que me deixou bastante revoltada, aconteceu em 2009 - se não me engano - com uma atriz de teatro chamada Malu Rodrigues (que tinha 16 anos de idade na época,), onde em uma peça fazia uma cena em que mostrava os seios. “Mostrar as mamicas”: apenas isso bastou para nossa sociedade hipócrita “cair em cima” dos pais da garota. O Conselho Tutelar se meteu e parece que Malu precisou ser emancipada para ter o direito de trabalhar e mostrar sua arte em paz. Absurdos como esse são bastante comuns, seja no cinema, teatro, pintura e até em livros. Mesmo em redes sociais somos constantemente censurados e denunciados. Eu mesma perdi minha conta no Facebook por três vezes somente pelo fato de postar fotos de nudez. E olha que nem eram fotos pornográficas, explícitas. Eram obras de fotógrafos conceituados e também algumas das fascinantes pinturas de Trevor Brown.

O mundo está cada vez mais doente e cheio de falsos moralistas, hipócritas e controladores e infelizmente a arte em geral perde muito por causa disso. É muito triste.

Como surgiu a idéia para a concepção do curta "A Paixão dos Mortos"?
R: Não lembro exatamente como surgiu a idéia, mas sei que foi em uma das minhas muitas conversas com o Coffin Souza. Filmamos o curta em uma tarde de sábado, nos divertindo. Foi mais como uma brincadeira do que com a idéia de querer fazer um filme perfeito, e o resultado me agradou bastante. O curta, que já participou de alguns festivais e mostras, foi também estrelado por Elio Copini e Cleiton Lunardi (nos papéis de zumbis), fotografado por Petter Baiestorf, dirigido por Coffin Souza e editado por Adriano Trindade e Toniolli.  Fiquei feliz com essa produção em parceria com o Coffin, que eu gosto e admiro tanto. Junto com ele também participo do divertido “O Laboratório do Dr. Sepúlveda” que ainda está em fase de produção. Acredito que nossa parceria não para por aqui, pois temos muitas idéias e projetos que juntos colocaremos em prática sem muita pressa.

Você só atua como atriz ou deixa sua marca pessoal em outros trabalhos?
R: Bem, no mundo da arte já me aventurei na dança contemporânea e inclusive me apresentei algumas vezes, mas tenho consciência que não levo o muito jeito para dançar e por isso resolvi deixar o grupo e me dedicar mais à atuação. Com certeza o curto período em que participei do grupo de dança ajudou bastante o meu trabalho como atriz, pois toda dança, mas principalmente a contemporânea, envolve muito a transmissão do sentimento e idéias... enfim, dançar não deixa de ser atuar!

Outra coisa que me interessa bastante é a confecção de figurinos. Trabalho como voluntária há 3 anos na Fundação Cultural na produção de figurinos no final do ano, principalmente figurinos de ballet. E é um trabalho muito gratificante, onde aprendo muito, não só sobre bordados e costura. O estilista/bailarino/ator/artista plástico Carlos Alves, responsável pela confecção dos figurinos é uma pessoa interessantíssima, com um rico conhecimento cultural, e conviver/trabalhar ao lado dele só me faz bem, aprendo bastante com ele e espero que essa amizade/parceria continue por muito tempo.

Quais as musas inspiradoras de Gisele Ferran no teatro, cinema e literatura?
R: Quando se fala em atriz teatro, o primeiro nome que me vem na cabeça é Dercy Gonçalvez. Ela é uma das mulheres que mais respeito e admiro por tudo o que passou e os preconceitos que teve de enfrentar, conquistando o público cheio de moralismos da época em que começou no teatro de revista. Com jeito desbocado e com muito bom humor, foi uma pessoa irreverente, forte e batalhadora, uma mulher muito a frente de seu tempo. Assim também como Simone de Beauvoir e Anaïs Nin, mulheres que sempre lutaram por liberdade e independência e que admiro não só por suas obras, mas sim por toda a história de vida que tiveram.

Gosto também da atriz pornô Sasha Grey (que agora está participando de filmes não eróticos) pelo seu talento, beleza e inteligência. Admiro muito também a brasileira Monica Mattos. Ah, são tantas as musas inspiradoras no cinema: Tura Satana, Eva Green, Debbie Rochon, Maila Nurmi...todas elas com estilo diferentes, mas com uma coisa em comum: a personalidade forte.

No cinema underground, a minha ídola é, sem dúvidas, Dona Oldina do Monte, a “Fernanda Montenegro do Trash Nacional”. Quem dera eu com 82 anos ainda estar participando de filmes com toda essa garra e vontade. Um belo exemplo a ser seguido! Admiro também as musas do underground: Ljana Carrion, Karina Bez Batti, Kika Oliveira, Mayra Alarcón, Mariana Zani...

Mesmo sabendo que você faz parte da equipe canibalesca de Petter Baiestorf eu tenho que fazer esta pergunta. Gostaria de trabalhar com alguns dos outros diretores que banham de sangue o nosso cinema udigrúdi? Quais?
R: Estou bastante satisfeita em fazer parte da equipe Canibal Filmes, tenho certeza que essa parceria vai durar bastante, temos muitos projetos para colocar em prática, admiro pra caramba o Petter Baiestorf e o Coffin Souza e é um prazer imenso fazer parte dessa equipe.  Gostei bastante de trabalhar com o Gurcius Gewdner também. Outro diretor com quem trabalhei recentemente foi o André Bozzetto Jr., onde fiz uma pequena participação na segunda temporada da websérie “Lua Perversa” e foi bastante tranquilo e divertido trabalhar com ele. Ah são tantos os diretores que admiro e com quem gostaria de trabalhar... José Mojica Marins, por exemplo, Joel Caetano, Rodrigo Aragão, Newton Uzeda. Tem o também catarinense Jone Shuster. Enfim, muita gente competente e talentosa!

Nos filmes em que atua você reforça a idéia de ser um "monstro sexual". A Gisele Ferran como pessoa também é assim?
R: (risos, muitos risos!) Como falei nas respostas acima, comecei a fazer teatro pra perder minha timidez. De certa forma o teatro me ajudou um pouco, mas continuo sendo bastante envergonhada. Ao contrário do que se pensa, não faço o tipo “mulher fatal”, não faz parte de minha personalidade.  Não sei me vestir de maneira provocante e não me sentiria bem com tais roupas.

Um filme, um ator, uma atriz e uma frustração na sétima arte...
R:  Ahhh, muito difícil ter de escolher um filme e uma atriz apenas. Não saberia fazer isso pois são tantos os que gosto. Mas escolherei o filme “Drácula” (1931, com Bela Lugosi, um de meus atores preferidos). Por que este filme? Pra fazer um paralelo com o filme que escolherei como uma grande decepção do cinema: a saga “Crepúsculo”. Os adolescentezinhos fanáticos pela saga que me desculpem, mas a idéia do filme é ridícula e a história não tem nada a ver com os contos vampíricos, sendo um absurdo e uma vergonha total. Onde já se viu um vampiro apaixonado que brilha sob o sol?

Quais as novidades de Gisele Ferran para os fãs?
R: Nós da Canibal Filmes estamos com muitos projetos que pretendemos colocar em prática e espero que tudo dê certo para que isso aconteça em breve. Fiz pelo menos 3 filmes que ainda estão em fase de pós-produção. Logo menos estará disponível a websérie “Lua Perversa” no Youtube, em sua segunda temporada, onde os fãs poderão prestigiar minha pequena participação. Gurcius Gewdner lançará ainda esse ano ainda (assim esperamos!) dois filmes comigo no elenco que gravamos ainda em 2010, na mesma época de “Frebby Dreck Ballet”. Espero também terminar o filme “O Laboratório do Dr. Sepúlveda”, que fiz em parceria com Coffin Souza.

Muito obrigado por esta deliciosa conversa e deixo aqui registrado todo o apoio do laboratório do Doutor K. Daver e da Ravens House Brasil para você e toda a equipe da Canibal Filmes. Gostaria de deixar um recado para os fãs (e aos inimigos, se também quiser, heheheheh...)?
R: Agradeço à você pelo apoio e oportunidade. Gostei muito da entrevista e é sempre um prazer poder divulgar e falar sobre o meu trabalho. Gostaria de agradecer também a todos os fãs e pessoas que curtem os meus filmes. Esse reconhecimento, admiração e carinho do público é a maior recompensa para mim. Isso é algo extremamente gratificante e que me deixa muito feliz. Para aqueles que quiserem acompanhar meu dia-a-dia e saber mais sobre minhas opiniões (muitas vezes polêmicas!), basta seguir meu perfil no Twitter: @Gi_de_Gisele. Tenho também um blog sobre Scream Queens, quadrinhos, fêmeas fatais, filmes sexploitation, horror, trash em parceria com o Coffin Souza chamado She Demons Zine.

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