quinta-feira, 21 de março de 2013

ENTREVISTA: Boni Coveiro - fanzineiro e diretor dos anos 90



Quem é Boni Coveiro?
R: Bom, O Coveiro inicialmente foi um personagem criado para compor o fanzine chamado The Bastards, (1996) que hoje está extinto. Logo tomou proporções e tornou-se protagonista em seu primeiro filme em vídeo trash, chamado O Mensageiro Das Trevas que, teve uma seqüência O Guardião Do Inferno. Ainda existe um terceiro filme, último da trilogia que ainda não tem data definida para início das filmagens, até por que estou envolvido com um outro filme já em andamento. Sobre a história do personagem posso dizer que o Coveiro é a reencarnação de Cérbero, o cão de três cabeças que guarda as portas do inferno. Gerado de uma união maldita entre uma poderosa feiticeira e o próprio Lúcifer veio na forma humana para o nosso mundo com a missão de recrutar almas para o "tinhoso". Na vida adulta trabalhou como Coveiro no cemitério de um vilarejo próximo a cidade de Chapecó - Sul do Brasil. Por praticar vários assassinatos seguidos de canibalismo, aparentemente sem nenhuma explicação foi executado pelos próprios moradores locais, que, fazendo justiça com as próprias mãos atearam fogo no Coveiro. Anos mais tarde uma entidade maligna volta a cidadezinha para assombrar os moradores, e o restante da história dá para se imaginar, né? (risos)
O fanzine "The Bastards" assombrou os anos '90 com a mais plena escatologia do underground e nas suas páginas desfilaram figuras fodásticas do underground como Luciano Irrthum, Peter Baiestorf, Toninho do Diabo e Marcos T.R. Almeida... Fale-nos mais sobre este e outros trabalhos da época.
R:
Esses foram grandes colaboradores e amigos que tive a honra de contar com suas colaborações na época do zine. Figuras carimbadas do underground que enriqueciam muito as páginas do The Bastards. Desses ainda tenho contato com alguns, como o Petter Baiestorf, o Toninho do Diabo e outros. Infelizmente os demais não tenho mais contato. Nos anos 90 a cena era riquíssima em se tratando de fanzines, uns mais elaborados outros nem tanto, o que importava era estar divulgando os trabalhos, idéias, desenhos, filmes, bandas e afins. A troca de informações era fantástica, ainda não possuíamos o contato com uma ferramenta comum hoje entre nós, a internet, que só chegou ao alcance dos "zineiros" alguns anos depois, antes disso a internet era mais elitizada. Lembro dos "flyers" que o pessoal mandava junto com seu zine nas cartas, divulgandos outros fanzines, bandas, etc... Lembro-me bem de alguns que recebia com certa freqüência, ARGHHH, Juvenatrix, Astaroth entre outros. Saudades mesmo daquele tempo, que eu não via a hora de chegar em casa do trabalho para abrir a caixa do correio e me deparar com alguma correspondência, hoje a internet facilitou em muito a vida dos zineiros, mas o prazer de abrir o envelope e me deparar com uma "revistinha" feito á punho pelo cara é insuperável!
Falar do "The Bastards" e não citar as grotescas receitas da Vovó Genoveva chega a ser um pecado mortal. Gostaria de sabem quem foi o criador deste "carismático" personagem e o porquê de sua morte prematura?
R:
O criador foi eu mesmo. Só não me pergunta da onde eu tirei a idéia porque não sei! (risos). Achei que era uma boa pegar um personagem diferente para colocar no zine. Até então era algo novo, não vi algo assim em nenhum outro e arrisquei. Uma velha, bruxa sei lá, dando receitas grotescas para os leitores, pensei que ficaria no mínimo engraçado, cômico. Por nossa “mestra-cuca” a Vovó Genoveva ser uma bruxa os leitores poderiam esperar a cada número receitinhas com ingredientes realmente grotescos e nada convencionais como vemos hoje em programas de TV como Ana Maria Braga (risos). Depois ela ganhou várias versões, cada desenhista colaborador queria mostrar o seu ponto de vista da velhinha, e isso foi muito bom, pois era sempre algo diferente a cada número que era lançado. Quis poupar o personagem para não ficar “maçante”, então dei umas férias forçadas a ela, alguns números depois o The Bastards deixava de existir e foi enterrado junto com a boa velhinha (risos).
Você sabe que esta entrevista não seria completa sem que nós perguntássemos sobre o incidente ocorrido no concurso que escolheria o sucessor do Zé do Caixão. Poderia nos dizer como foi que terminou e o que mudou desde então?
R:
Acho que foi em 1999 que rolou o concurso, era promovido pelo próprio José Mojica Marins, juntamente com uma rádio creio eu, para escolher o sucessor do seu personagem “Zé do Caixão” nos filmes de horror que ele fosse produzir futuramente. Lembro-me bem de ter visto uma matéria sobre o concurso na MTV, onde a Cris Couto dava detalhes de como se inscrever seria um concurso de nível nacional. Anotei tudo e na manhã seguinte fui pras correrias da inscrição. Lembro-me que uma das exigências era não possuir tatuagens (pois descaracterizaria) o personagem, se apresentar com roupas pretas e pagar uma quantia de R$ 60,00 mais despesas para São Paulo no caso do candidato ser de outra cidade ou estado. Fui para São Paulo com a cara e coragem, era uma fila quilométrica de dobrar quarteirão de tanta gente inscrita. Eram aos milhares. Participei de duas eliminatórias onde me coloquei com sucesso, detalhe; eu estava caracterizado de Boni Coveiro, isso me deu certa vantagem com relação aos outros candidatos lá presentes. Lá pelas tantas já aqui em Chapecó ouvi boatos que o concurso já teria um candidato pré-selecionado para ganhar o concurso, imediatamente liguei para a Sra. Mira, assessora do Mojica na época e questionei... vixe... tomei um esporro da mulher, me indignei e decidi não mais participar da última fase. Já estava sem grana e não contava com o apoio de nenhum patrocinador. A final deu-se no Programa do Ratinho no SBT com transmissão ao vivo num sábado, e o vencedor foi Rubens Mello, um cara super gente fina que conheci lá e tenho contato até hoje, aí compreendi que tudo não passava mesmo de um boato, pois o cara tem talento e o fez por merecer, o que ficou de mágoa mesmo foi a discussão por telefone com a tal Mira. Mas já passou, aliás, há muitos anos. Admiro o trabalho do Mojica, até por que o cara é o percursor de tudo no Brasil. O lado positivo fiquei bem conhecido pelas entrevistas e várias portas se abriram para mim depois disso. Foi válido!
Você praticamente "hibernou" no cenário underground por alguns anos... Qual o motivo para o ressurgimento do Boni Coveiro numa época onde os fanzines de papel estão quase extintos?
R:
Retornei sim, mesmo como você bem disse numa época onde os fanzines de papel quase não existem mais. Não com o zine, mas sim com os filmes do personagem. Os tempos mudaram hoje a tecnologia nos permite uma troca de informação mais veloz do que há dez anos atrás. Fiquei por mais de cinco anos parado, afastado dos meus trabalhos, pois tive que dar prioridade para algumas coisas, a faculdade em que me formei a pouco, por exemplo, sou da seguinte opinião; “faça poucas coisas, mas bem feitas do que várias ao mesmo tempo e ficar uma porcaria” (risos). Agora terei mais tempo para dedicar-me as coisas que realmente gosto.
O que você acha da transição dos fanzines de papel para os blogs e e-zines em PDF?
R:
Acho ótimo, como eu disse, a tecnologia veio para nos auxiliar, deixar as coisas mais fáceis do que eram anos atrás, o mais bacana de tudo é a rapidez da troca de informações. No caso dos filmes, por exemplo, hoje contamos com o advento do Youtube para colocarmos qualquer vídeo de nossa autoria ou não para que milhares de pessoas conheçam seu trabalho, quer propaganda melhor e mais barata que isso? Antes isso era impossível de se conquistar. No caso dos zines não é diferente, o caminho é esse e infelizmente o nosso tão querido zine em papel irá desaparecer, (tomara que isso não aconteça!)
Sobre os seus filmes... Pretende retomar os seus projetos antigos, iniciados com a Extreme Prod. ou o pensamento do Coveiro mudou com a experiência?
R:
Na verdade, há muitos anos não pertenço mais a Extreme Produções, os outros caras chegaram na boa e me deram como sugestão “partir para carreira solo” (risos), pois o meu personagem estava em evidência e o forte da produtora nunca foi filme de terror, então resolvi tomar o meu caminho. E foi legal assim, somos amigos até hoje e participamos indiretamente um das produções do outro.

Já existem projetos de lançar novamente as histórias macabras de Boni Coveiro agora que existem mais opções por meio das editoras de quadrinhos alternativas?
R:
Não descarto essa idéia não, de maneira alguma, mas em primeiro momento penso nos meus filmes, que já me tomam bastante tempo. Em uma segunda oportunidade quem sabe o Coveiro não aparece por aí dando suas foiçadas novamente. De qualquer maneira tenho um blog, um perfil no Orkut e uma comunidade que já existem a um tempinho, lá coloco minhas idéias junto com o pessoal adicionado, relato as novidades das minhas produções e faço contatos. Tá de bom tamanho... mas um zine em PDF iria bem a calhar!

Qual a mensagem que o Coveiro mais sarcástico do underground tem para os novos leitores e apreciadores do movimento gore?
R: Que nunca desistam de seus sonhos, dos seus trabalhos ou deixem de fazer as coisas que gostam. Eu sou prova disso, persisti por vários anos, e muita gente boa ainda está por aí... Divulgando seus trabalhos das mais diversas formas, tudo com muita criatividade e força de vontade, são esses fatores que não me permitem deixar o underground, é essa magia que acontece que acho extremamente bacana. Se tiver vontade de fazer cinema independente faça! Se tiver vontade de montar e publicar um zine faça! Quero muito ver por anos, sangue e tripas voando nos quadrinhos, nos filmes trash, etc... (risos)
Muito obrigado por este bate-papo e esperamos que Boni Coveiro venha novamente com força total para assombrar (e causar asco!) a nova geração.
R: Eu que agradeço pela oportunidade de expor minhas idéias, elogio pelas perguntas bem elaboradas e me ponho ao seu dispor amigo, sempre que precisar. Aos leitores deixo meu abraço, peço que acompanhem meu trabalho e entrem em contato comigo sempre que quiserem. 

Vida longa ao trash!!!

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